O tempo sempre passou com suas horas sem eu nunca ter me dado conta de que ele estava contando cada uma delas. Essa despreocupação durou até os meus 25 anos, quando nasceu o João Pedro, meu filho. Como toda mãe, o medo do tempo daquela criança passar e eu não ver era constante. E foi isso mesmo que aconteceu. As horas passaram, os dias voaram, os anos se esgotaram naquele conta-gotas finito.
O nome e a filhote
O nome estava comigo há quase um ano. Anotado, salvo, arquivado. E pulsante, querendo vida além da que eu o oferecia na minha memória que nunca esquecia dele. Era pouco para tanta beleza guardada no bloco de notas.
Eu nem desconfiava que naquela segunda-feira ele, o nome, iria deixar de ser um desejo. Que clichê! Logo no tal dia dos começos, e bem cedinho para rimar com aquele outro, o do madrugador.
Torto Arado e Salvar o Fogo me trouxeram de volta
Há algum tempo eu vivo um desassossego, um desentendimento constante com minhas memórias. Quando comecei a ler Torto Arado parecia que eu estava abrindo um álbum de família, que mesmo não sendo a minha de hoje, era a que já tive em algum passado. E partes dela permanecem em mim. Seja na minha pele e nos meu lábios, mas principalmente no sentir.
Não sou lá de cima
Eu tinha uns 16 anos e procurava emprego com uma amiga, de 18. Naquela manhã a acompanhei até um comércio que existia na rua Brasília, em Porto Velho. O nome do lugar nunca esqueci, Paulista. Um homem branco, alto e estúpido falou, aos gritos, com a minha amiga que não contratava gente da cidade, porque eram pessoas preguiçosas e faltavam ao trabalho em dia de chuva.
Quero minha saúde mental de volta
Sei que não posso esperar que o externo modifique meu interior, mas está muito difícil me manter tranquila diante de tudo o que está acontecendo no país (e que piorou nos últimos meses).
Como posso achar “que não é nada” associar meninas de 13, 14 anos a sexo? Ouvir um homem de 67 anos dizer que “pintou um clima” e relativizar; sendo que eu mesma fui vítima diversas vezes desse tipo de assédio porque era “grandinha” para a minha idade? Sendo que sou mulher e sei muito bem o que é ser mulher nesse mundo hostil a todas nós?
Minha amiga Golby
Não lembro quando Golby e eu nos conhecemos. A única certeza que tenho é onde. O Twitter nos aproximou na época que a rede do passarinho azul ainda era amigável, acho que há uns 12 anos. Golby, assim como eu, é porto-velhense, mas mora em Rio Branco há décadas. Por motivos que não lembramos, nunca nos encontramos pessoalmente, mesmo morando a apenas 500 quilômetros de distância.
O pé de eucalipto prateado
Era fim de tarde e as cores do crepúsculo deixaram aquele momento ainda mais fascinante.
Por um instante eu me vi diante de um portal. Instintivamente me aproximei daquele majestoso ser e toquei sei tronco, tão marcado pelo tempo.
Lembrei que naquele dia eu estava marcando em meu corpo mais alguns sinais pelo excesso de sol ou pela falta de água. Que minha consciência poderia ficar bem leve, caso eu cumprisse com o combinado, ou muito pesada. Tudo dependia de minhas escolhas.
As multicores do Mercado Central
Em todas as nossas viagens – sejam no Brasil ou exterior – os mercados sempre estão no nosso roteiro. É neles que podemos conhecer um pouco melhor sobre a cidade que estamos visitando e os hábitos/costumes de seus habitantes. Em São José, onde moramos, não há um mercado público. O espaço de venda e consumo de itens regionais está localizado no Centro Histórico de Florianópolis. Sempre que vou ao Centro tento passar pelo mercado e a busca é sempre a mesma: pimenta de cheiro. Foi lá que encontrei uma vez e comprei a última bandeja com algumas pimentinhas.
Prefiro feijão com charque
Ultimamente tenho pensado que o topo de um muro tem melhor utilidade para passarinhos e gatos. Às vezes eu me apoio nele para conseguir podar a primavera, que se estica tijolos a fora e ameaça chegar ao meio da rua. Mas o muro figurativo é um lugar onde não desejo estar, principalmente em meio a tantos conflitos. Antes eu até via esse recurso como algo seguro, onde seria mais fácil manter relacionamentos e, especialmente, amizades. Não que eu queira me desfazer de amigos ou deseje que eles se desfaçam de mim, nada disso. O que não dá mais é fingir que está tudo bem quando não está. Poderia até pensar que está bem sim, afinal, tenho um emprego, casa própria, quantas refeições quiser ao dia, meu filho e meu marido perto de mim. Grandessíssima egoísta seria se assim pensasse.
Chega de sofrer, vamos lutar!
No dia seguinte à noite que fiquei (e o Brasil que não dorme) sabendo que a vergonhosa não compra de vacinas é muito pior do que sabíamos até aqui, recebi a notícia que o amigo Adão Gomes não resistiu às complicações da doença e morreu. Jovem e saudável foi contaminado, passou dias na UTI e morreu. Assim como ele, milhares até aqui. Uma Florianópolis inteira desapareceu. Em semanas, talvez poucos dias, será uma Porto Velho. São 511 mil mortos por uma doença que já tem vacina, no país que até há pouco tempo era referência em imunização.