“Pra que, essa ansiedade, essa angústia?” – pergunta, como se estivesse num conto de fadas, o general da ativa que ocupa o cargo de ministro da Saúde do Brasil. Diante da pergunta totalmente deslocada da realidade, eu fiquei (por dois segundos) sem acreditar, apesar de ter todos os motivos para crer que sim, era real.
Enquanto uns negam, milhares morrem
No começo da pandemia, com tudo tão mais incerto quanto agora, muito se falou na mudança que o isolamento social poderia influenciar no comportamento humano. As dificuldades de quem tem menos tocariam profundamente quem tem mais, geraria empatia em todos e em pouco tempo seríamos novas pessoas. Menos egoístas, com certeza. Empáticos sim, como não?
Alô, alô marciano
São cinco meses de mudanças na rotina e nos planos. Nesses dias teve períodos em que não consegui dormir direito, que comi demais, que assisti a séries como se não houvesse um amanhã cheio de compromissos com a vida. No meio disso, em junho, sofri um acidente e fiquei de cama por longas semanas.
Dias estranhos
Essa semana está sendo bem estranha. Sem querer, soube que na minha Carteira de Trabalho Digital – da qual desconhecia a existência – estou registrada desde 2013 como ‘operadora de máquina pesada’ no Governo de Rondônia. O período entre 2015 e 2018 como coordenadora de conteúdo não aparece na tal carteira. Ainda não consegui resolver esse mistério.
Exemplo que arrasta
Mais de 50 mil pessoas morreram de covid-19 até ontem (20). Cinquenta mil vidas se foram vítimas de um vírus que chamamos ‘novo’ mas que já está há muito tempo entre nós destroçando famílias. Muito tempo para tanta morte são quatro meses desde a primeira vítima no Brasil. Bebês, crianças, jovens e idosos de gêneros, idades e classes sociais distintas morreram nesse imenso País, que está há mais de um mês sem um ministro da Saúde.
Ansiedade na vitrine
Ontem eu não quis descer para o café da manhã com o Zé Carlos. Preferi ficar no quarto e tomar café na cama. Estava me sentindo cansada. Cansada de não poder descer as escadas sozinhas como todas as manhãs anteriores à queda e entorse do meu pé direito. Desde então, o João Pedro me reboca escada abaixo e depois escada acima.
Quem chuta a dor do outro?
Para quem ainda acredita que a pandemia é uma conspiração e que a culpa pelas mortes é dos governadores e prefeitos que receberam um trilhão de dólares da União e que enfiaram nos bolsos;
Para quem se fia na certeza de que a Covid-19 hoje só pega pobre;
Para quem jura que é invenção isso tudo ai;
Máscaras que caem
Em um momento ou em outro de nossas vidas já vestimos duas ou 10 máscaras para encarar alguma situação ou até a nós mesmos. Quem nunca respondeu a um cumprimento com um sorriso bem agradável e palavras gentis quando tudo o que queria era reagir de forma contrária não entenderá o que estou dizendo e, provavelmente, não seja nem deste mundo.
A realidade é que as máscaras estão aí. Uns usam menos outros exageram.
E o fato que a pandemia de Covid-19 tem revelado é que as máscaras não vão se sustentar em meio a essa crise que se instalou no planeta.
Os egoístas não conseguem mais disfarçar o quanto se importam apenas com si e ninguém mais. Os tiranos não estão dando conta de segurar a crueldade e vão rasgar o véu, com que ainda tentavam esconder alguma sobriedade, para se apoderar de máscaras alheias, inclusive. Os inaptos, coitados, esses estão sendo expostos pateticamente em rede nacional.
Só não vê quem ainda prefere manter os olhos vendados. Em meio a uma tormenta não é um bom negócio ser cego. Há o risco de ser conduzido por outro sem visão e o caminho ao precipício pode ser inevitável.
O macacão da reflexão
Hoje, ao abrir o armário para pegar uma camiseta, me deparei com ele, o macacão que eu comprei “porque sim” há um mês e nunca usei.
As camisetas novas do João Pedro não foram inauguradas. Não deu tempo de usar todas no curso, nos únicos seis dias de aula. A quarentena se estabeleceu e tudo mudou.
Um macacão no fundo do armário, um curso sem aulas, camisetas nas gavetas. O que é isso diante de tudo o que vem ocorrendo nas últimas semanas no Brasil? Isso mesmo! Não é nada!
É uma pequena reflexão sobre a nossa quase que total falta de controle sobre a vida. Digo quase porque podemos controlar algumas coisas sim! Podemos escolher ser pacientes e gentis, generosos e bem humorados. Podemos nos calar diante da vontade de criticar, podemos ser pessoas melhores.
Nossa, mais que clichê, hein?
E não é? O que estamos vivendo hoje no planeta é um lugar comum daquelas palestras de coaching 0800. “Perceba o que o universo quer de você, qual recado está enviando nesse momento?”
E vamos ouvir esse grande coaching que é o coronavírus: volte para casa, repense seus hábitos, reveja conceitos, recrie rotinas e perceba o que realmente tem valor.
No dia que eu aprender essa lição e poder sair de casa, vou de macacão novo.