Gosto um tanto de sotaques (uns mais outros menos). Alguns parecem ter musicalidade, um ritmo. Ficaria ouvindo um tempão. Nessa viagem a Minas encostei na sombra de uma árvore lá em São Gonçalo do Rio das Pedras (vê que nome mais bonito?!) para ouvir a prosa de quem passava.
“Tem base não”, “Ô aqui procê ver se isso é assim messs”, “Com Deus, viu?” – foram algumas das frases que pesquei da conversa entre duas amigas (suponho, porque uma perguntou pela mãe da outra) que se encontraram na rua uma indo e outra voltando da escola para fazer a rematrícula do filho ou filha. Leia mais
Porto Velho completou ontem (2), 106 anos de fundação e hoje ao acordar meu segundo pensamento foi: queria tomar café lá no Mercado Central. Iria pedir mingau de banana com tapioca e uma tapioca com manteiga e castanha. Café para acompanhar. Taí uma saudade.
Uma coisa levou à outra e eu me lembrei de um texto que fiz para um caderno especial do Diário da Amazônia em homenagem ao aniversário de Porto Velho. Isso foi em 2007. Treze anos correram desde então. E esse texto foi o que me aproximou do Zé Carlos, o homem do Banzeiros – ou teria sido o contrário? Bom, isso é outra história.Leia mais
Na mesa do almoço uma aula rápida de significado e significante. Falávamos sobre influência de terceiros em temas gerais, para dar um ajuda, por exemplo, em algum processo.
– O famoso pistolão, comentei.
Não entenderam. Então perguntei o que significava ‘pistolão’ para cada uma das três pessoas.
– Pênis, disse um.
– Uma arma grande, respondeu o segundo.
– Alguém com muita raiva, pistolão da vida, explicou o terceiro.
Como é rica a Língua. Uma palavra e quatro entendimentos. Por isso é tão importante sermos claros em nossas mensagens. Algumas não serão compreendidas porque o receptor/destinatário não tem condições contextuais para tal; ou pode acontecer, como no caso do ‘pistolão’, de os ouvintes desconhecerem o sinônimo dado por mim à palavra naquela frase.
Comunicar é muito mais do que juntar palavras e soltar por aí.
Pernilongo, muriçoca, carapanã, mosquito. Como você chama esse bichinho azucrinante? Antes que você responda: “eu não chamo, ele vem sozinho”, vou tentar “adivinhar”. Se você mora no sul, sudeste e centro-oeste do país, possivelmente, esse insetinho seja o pernilongo. Caso more no nordeste, o dito cujo é batizado de muriçoca. No entanto, quem mora na região Amazônica, no norte do Brasil, o bicho é chamado de carapanã.
Ontem percebi que tenho chamado de mosquito a todas essas pestinhas minúsculas. Meses atrás eles eram carapanãs. Parei para refletir sobre essa mudança e acho que alterei o sinônimo irrefletidamente para me adequar à região onde hoje eu moro, na Grande Florianópolis.
Assim como precisei renovar o guarda-roupas com peças invernais, adotei palavras conhecidas mas que não eram utilizadas por mim, como aipim, chuleta, mexerica – para ficar só na feira. Eu não vou me aferrar a um vocabulário que não colabora com minhas atividades cotidianas. Portanto, dicionário portovelhês, ou nortista, só quando estiver conversando com falantes – ou entendidos – dessa variação de falares brasileiro. Ou seja, em casa.
A língua não é produto pronto e acabado e, por isso, se renova o tempo todo e quem faz isso somos nós, os falantes. Como a posição social ou a raça, a língua também separa. Ou melhor, os falantes a usam como régua para medir o que importa dentro de suas suposições preconceituosas. Ninguém é mais ou menos por falar macaxeira ou mandioca; nóis vai ou nóis veio; vendimo ou vendemos. Mas isso é assunto para outra conversa, visse nêgo?
Na feira, deixei escapar: “Nossa! que maracujá maceta*!”