Ela é como uma folha que se desprende da árvore e sai rodopiando, levada por uma brisa. Gira, gira e depois se esconde perto de um arbusto onde bate sol e a terra é fértil. A folhinha não estava destinada a ser adubo. Não esse adubo e não agora. Nem ela sabia que tinha essa força. Anos sendo balançada de um lado para o outro à vontade do vento ou de alguém que balançava a árvore. Ela já estava meio madura quando um vento mais forte a arrancou ali do tronco que a segurava.
Valor somos nós quem damos
Essa árvore resistiu ao escavamento frenético do Argus Maximus. Ela chegou aqui sendo uma frágil plantinha e na terceira vez que foi retirada do chão pelo Argus, ficou em três pedaços. Insistente e otimista que sou, plantei novamente, reforcei a proteção contra as brincadeiras caninas e ela seguiu o curso da vida.
Mas hoje eu não consegui proteger a Jabuticabeira. Após uma forte chuva, quando os pássaros fazem festa, plantas e árvores sorriem agradecidas, recebi uma família interessada em comprar a nossa casa, que está à venda.
A mãe da família alegrou-se com o jardim, sorriu com as frutinhas brilhando na Jabuticabeira e espantada ouviu da filha: “Ah, coitada. Ela não vai ficar aí. Nada aqui vai ficar de pé”. Usei automaticamente a máscara de paisagem e nada disse. A moça explicou-se para a mãe: “Isso não me interessa, quero o espaço para uma piscina”.
A vontade que tive foi de abraçar a Jabuticabeira e dizer a ela que não era verdade, que a dona da casa sou eu e com ela ninguém mexe.
Esse ocorrido me fez refletir que somos nós que damos o valor – seja ao que for. Para mim o “meu” jardim
é lindo, é valioso para a casa, dá vida e proporciona bem-estar. Para mim. Para outras pessoas é apenas um amontoado de plantas, “que dá mosquito”. E elas não estão erradas, a avaliação é dentro da vivência pessoal eu não tenho que convencê-las do contrário.