São cinco meses de mudanças na rotina e nos planos. Nesses dias teve períodos em que não consegui dormir direito, que comi demais, que assisti a séries como se não houvesse um amanhã cheio de compromissos com a vida. No meio disso, em junho, sofri um acidente e fiquei de cama por longas semanas.
Bonitinho e ordinário

Uma vitrine de doces é um mundo de possibilidades. Eu bato os olhos num bolinho redondo e penso: Hum… Deve ter gosto de laranja. Aponto para enroladinho e pergunto para ter certeza: é de goiabada e queijo? E a pessoa atrás do balcão geralmente responde: É Romeu e Julieta. E eu sempre sorrio a essa resposta. Ah, mas nem bolinho de laranja, nem docinho mineiro. Eu quis a sobremesa árabe, um ninho de damasco. (Me perdoem se a nacionalidade do quitute está errada, foi o que me informaram).
Que lindo! Perfeito para uma foto. Que textura! Fico até meio ansiosa para provar, mas deixo para depois. Com certeza o doce não é mais saboroso do que uma conversa leve numa tarde descompromissada. Pode esperar.
Após goles de café, histórias e exclamações, chegou o momento aguardado. Com as mãos gulosas, levo o doce das arábias à boca. Mordisco com cuidado. Engulo. A força. Quero gritar pelo Procon. Quero convocar a Comissão de Direitos Humanos. Uma bancada de psicólogos, por favor.
Lido com frustrações há uns bons anos e há algum tempo aprendi a não ser limitada por elas. Um relacionamento que não era bem aquilo. O trabalho que não rendeu tanto quanto esperava. A receita que falhou no dia da festa. Ok, é tudo superável.
Mas um doce fingir ser maravilhoso; seduzir e prometer o céu em pequenos beliscões; iludir com a promessa de prazer inesquecível? Isso é inaceitável.
Inadmissível para mim com tantos carimbos na página da vida ter sido enganada por um docinho de padaria. Onde vou parar desse jeito?