
Uma vitrine de doces é um mundo de possibilidades. Eu bato os olhos num bolinho redondo e penso: Hum… Deve ter gosto de laranja. Aponto para enroladinho e pergunto para ter certeza: é de goiabada e queijo? E a pessoa atrás do balcão geralmente responde: É Romeu e Julieta. E eu sempre sorrio a essa resposta. Ah, mas nem bolinho de laranja, nem docinho mineiro. Eu quis a sobremesa árabe, um ninho de damasco. (Me perdoem se a nacionalidade do quitute está errada, foi o que me informaram).
Que lindo! Perfeito para uma foto. Que textura! Fico até meio ansiosa para provar, mas deixo para depois. Com certeza o doce não é mais saboroso do que uma conversa leve numa tarde descompromissada. Pode esperar.
Após goles de café, histórias e exclamações, chegou o momento aguardado. Com as mãos gulosas, levo o doce das arábias à boca. Mordisco com cuidado. Engulo. A força. Quero gritar pelo Procon. Quero convocar a Comissão de Direitos Humanos. Uma bancada de psicólogos, por favor.
Lido com frustrações há uns bons anos e há algum tempo aprendi a não ser limitada por elas. Um relacionamento que não era bem aquilo. O trabalho que não rendeu tanto quanto esperava. A receita que falhou no dia da festa. Ok, é tudo superável.
Mas um doce fingir ser maravilhoso; seduzir e prometer o céu em pequenos beliscões; iludir com a promessa de prazer inesquecível? Isso é inaceitável.
Inadmissível para mim com tantos carimbos na página da vida ter sido enganada por um docinho de padaria. Onde vou parar desse jeito?
Que alegria ler, ver, sentir, que minha grande incentivadora, a editora-chefe do jornal que insistia que eu publicasse livros, é uma cronista de mão cheia. Um texto saboroso, pronto para ser devorado. Delícia de ler, Marcela. E pela amizade de sempre, também sou grato. Amigos assim fazem a vida ser uma delícia de viver…
Obrigada pelo carinho e gentileza de sempre, meu amigo. O Crônicas Domingueiras está sempre a mão.