Ao ler no Twitter que crianças participaram de um desfile para serem vistas por prováveis (e esperados) adotantes senti repulsa imediata ao evento realizado em Cuiabá. Expor quem está à espera de um família em um show num shopping não me pareceu muito adequado e até mesmo desumano com os pequenos.
Mas será? Então fui ler a reportagem. Meninos e meninas entre 4 e 17 anos desfilaram sorrisos e olhos brilhantes na esperança de que pousassem em um pai ou mãe que se encantasse. E há quanto tempo aguardam por isso? Essa foi a chance que eles tiveram de serem vistos por famílias do cadastro de adoção e pelas que passeavam no shopping alheias que há abrigos (casas, orfanatos) com crianças e adolescentes sem ninguém por eles, além de funcionários dedicados.
“Ah, mas isso é como se exibiam escravos”, disse um, “Criança não é mercadoria”, comentou outro. Criticar o evento é fácil. Difícil é levantar a voz a favor da adoção. O desfile foi uma forma de expor que há crianças sob a tutela do Estado, adolescentes que em breve completarão 18 anos e terão que deixar o abrigo. Isso sim é cruel.
A adoção ainda é tabu no Brasil e, mesmo com todas as mudanças ocorridas na sociedade nas últimas décadas, ainda há quem deseje adotar uma criança dentro de critérios conservadores: bebê de até dois anos, pele alva, cabelos lisos, dentes tipo colgate e que não tenha irmãos.
Se cada um que reclamou e subiu hastag contra o evento agisse na divulgação de informações sobre a adoção, quem sabe, teria mais utilidade do que atrapalhar quem está fazendo alguma coisa de verdade.