Quando estivemos pela primeira vez na casa onde hoje moramos, fomos recebido por um sorridente cachorrinho caramelo. Nos seguiu pela rua e depois pelo quintal da casa. Ganhou carinho e nossa simpatia. Os olhos dele falavam mais sobre o lugar do que o corretor imobiliário que nos acompanhava.
Dias depois soubemos que o vira lata atendia por Pequeno, tinha casa, comida e caminha, mas gostava mesmo era de perambular pelas ruas do bairro, dar conta do que passava pela vizinhança. Argus e Azula fizeram festa para ele logo que se conheceram. Achava curioso como todos os cães faziam amizade com o Pequeno. Inclusive, conheci a Atena por meio dele, que a levou para casa e então eu a pude ver da sacada. Era o camarada de todos. Com exceção, claro, dos motociclistas. Não negava a raça.
Subindo ou descendo a rua, era preciso pagar pedágio para o Pequeno. Ele exigia atenção. Um carinho na cabeça resolvia, mas ele preferia atenção completa. Uma conversa, um afago e um petisco. Ele adorava conversar e se meter nos assuntos alheios. Um fofoqueiro gente boa.
Pequeno era adorado pelo Erick, filho dos vizinhos Mari e Celso, que faziam de tudo para conter o cachorrinho nos limites do muro, mas Pequeno agia como um gato. Escalava a parede e ganhava a rua. Várias vezes eu acompanhei da sacada de casa as fugas do Pequeno.
Os vizinhos não planejavam um muro tão alto, mas estavam aumentando para que o cachorrinho não escapasse. Tudo resultou em nada. Pequeno foi atropelado e todos nós fomos patrolados com a sua morte trágica. Temíamos que isso poderia acontecer e mesmo assim tínhamos certeza que não ocorreria e que o Pequeno se acostumaria a ficar em casa, lugar seguro e que todos os animais domésticos deveriam ter.

Muitas conversas aqui em casa surgiam de algo que o Pequeno estava fazendo.
“Viu só onde está o Pequeno?”
“Lá vai o Pequeno junto com a gang”
“Olha lá, o Pequeno tem um novo amigo”
“Todo mundo quer ficar perto do Pequeno”
Às vezes, eu gritava do muro de casa: “Deixa de ser leso, Pequeno, vai para dentro de casa.”
Ontem mesmo o Zé Carlos comentou: “Pequeno ao invés de ir para a caminha quentinha fica na rua”.
Por quê, Pequeno?
A liberdade que você queria de sair e zanzar por aí não podíamos te dar com segurança. O mundo lá fora não é seguro para inocentes risonhos.
Quando você vinha até mim, sorria, estendia as patas dianteiras, se espreguiçava, se balançava e depois pulava nas minhas pernas. Será essa lembrança que guardarei de você, cachorrinho sorridente, o melhor vendedor de casa da região.